Quando a água subiu rapidamente e alagou várias cidades do Rio Grande do Sul, uma quantidade enorme de pessoas abandonaram suas casas para salvarem suas vidas.
Porém, não ficaram para trás
somente animais de estimação, veículos, móveis boiando nas águas e cobertos por
lama, mas principalmente objetos que contam histórias.
São fotos em molduras ou álbuns,
quadros, brinquedos, livros, acessórios de toda ordem, recordações do pai, da
mãe, do filho, do marido, da esposa..., que eternizavam momentos únicos, e
apagados para sempre.
Não é lixo o que restou depois
que a água baixou, mas muitas histórias vividas e armazenadas em cada objeto
danificado. Cada um tem um significado diferente, repleto de afetos e de
lembranças, que revelam um forte apego as coisas materiais, e que nos definem.
A perda de cada objeto,
independente do seu tamanho, forma, cor, peso, traz consigo sentimentos de toda
ordem, extremamente necessários para relembrar e recontar histórias.
Estes objetos perdidos detêm
informações preciosas que certificam toda uma existência.
Quando uma pessoa refere que
“perdeu tudo” nesta tragédia, ela experimenta uma dor semelhante a perda de um
ente querido. Sem fazer comparações, são afetos que foram levados embora contra
a sua vontade e sem a possibilidade de recuperar a materialização das lembranças,
agora perdidas totalmente.
Esta dor vai aumentando durante o
período de descarte daqueles objetos, que um dia foram guardados para perpetuarem
aquele momento em algum lugar da casa, mas agora não servem mais.
Não é lixo, não é entulho, é
sentimento de dor!
Todos lamentam as perdas dos seus
objetos e necessitam elaborar o luto: mais fácil para alguns, dependerá do grau
de resiliência e de resignação de cada pessoa, diante do drama existencial.
Alguns possuem capacidades
psíquicas adequadas para a reconstrução de suas vidas, já que a importância que
se dá aos objetos pessoais alimenta os bons sentimentos, e estes valorizam as
histórias das pessoas. Aqueles que
revelarem dificuldades para refazerem suas vidas necessitarão de ajuda em
dobro, por conta das suas fragilidades emocionais e psíquicas.
É fundamental o apoio da
comunidade, dos amigos, familiares, colegas de trabalho, dos profissionais da
área da saúde e da sociedade como um todo.
Cair e levantar dói muito, mas
faz parte do aprendizado reiniciar com outros objetos. Não serão os mesmos um
dia perdidos, mas servirão para recontar uma nova história.
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