Nunca nesse país se falou tanto em
psicologia no futebol e suas influências dentro e fora de campo. Nunca houve
tantas entrevistas, nunca a psicologia dos esportes esteve em evidência. Nunca os
psicólogos do esporte foram tão procurados para comentarem nos veículos
de comunicação mundo a fora. É muito importante esse tipo de divulgação, porque
a maioria das pessoas nem sabem o que é a Psicologia do Esporte. Em muitos
momentos falou-se mais de psicologia do que propriamente de futebol.
Não
faltou assunto para ser observado e debatido durante a competição. Falou-se
sobre a mordida, sobre o choro dos brasileiros, sobre a emoção a flor da
pele durante o hino nacional, sobre a pressão que sofreram os jogadores, sobre
as reações passionais das torcidas, sobre a goleada diante da Alemanha e outros
temas. Não faltaram comentários em todos os locais, da mesa de bar às mesas
redondas de programas esportivos, hipervalorizados pelos ânimos exaltados das
redes sociais. Expressões como: emocional, concentração, frieza, ansiedade,
loucura, medo, angústia, estresse, resiliência, superação, motivação, perfil,
personalidade, coesão de grupo, lideranças etc., tornaram-se vocabulários
corriqueiros durante todo o mundial.
As divergências de opiniões
entre profissionais da área também contribuíram para o debate, e amplamente
exposto na mídia. Conceitos diferentes enriquecem as discussões e engrandecem a
ciência. Existem várias maneiras de atuação na psicologia do esporte, e também muitos olhares para o mesmo fenômeno. A pluralidade de teorias sobre o
mesmo comportamento é imprescindível para entender a complexidade do ser humano
e suas interações. Contudo, foi bem positivo para todos os interessados na
psicologia do esporte a exposição nos meios de comunicação da atuação da Profa.
Dra. Regina Brandão junto à seleção brasileira de futebol.
A
seleção brasileira em nenhum momento da competição foi uma equipe
convincente. Os jogadores estavam extremamente pressionados por jogar em casa,
por já terem perdido uma Copa aqui e não havia outro resultado esperado pelos
torcedores e pela mídia a não ser a vitória. Certamente não é fácil sustentar a
expectativa e a pressão de 200 milhões de brasileiros e todo o contexto
político e social que envolve o futebol no Brasil. O fantasma de 1950 rondou os
atletas de 2014. Percebeu-se isso em diversas ocasiões, no choro e na emoção
dos jogadores. O choro em si não é necessariamente ruim, ele pode ser sintoma
de algo. O aspecto emocional também foi um dos problemas da seleção, mas faltou
igualmente uma preparação dessa equipe, o que ficou escancarado, principalmente
na derrota para a Alemanha. O grupo de atletas parecia coerente, mas havia
diferentes tipos de lideranças. Mas líderes e liderados também falham. Via-se
um time pouco treinado e nada seguro.
Não podemos separar em compartimentos uma
atuação que pertence às partes técnica, tática, psicológica e/ou física. São
fatores interdependentes e inter-relacionados. Não podemos encontrar culpados,
mas sim resultados.
A seleção da Alemanha
pode nos ensinar muito mais do que a vitória de 7×1. Eles possuem mais de 50
profissionais de diferentes áreas de atuação fazendo parte do grupo de apoio e
suporte aos atletas e à comissão técnica. Dentre eles, um departamento de
psicologia do esporte, liderado pelo Dr. Hans Dieter Hermann. Lá, o psicólogo
não é milagreiro ou salvador da pátria, é mais um profissional com respaldo e
condições necessárias para aplicar o seu trabalho, como deveria ser em qualquer
seleção de qualquer modalidade esportiva.
Por
mais preparados que estejamos podemos sucumbir, pois o ser humano não pode ser
programado como uma máquina. A grandiosidade do esporte se dá justamente nessa
imprevisibilidade, e no futebol isso não é diferente. Os detalhes e as
variáveis podem ser numerosos. Nem sempre as equipes mais capacitadas vencem: o
brilho de um craque ou o erro do perna de pau pode destruir qualquer equipe.
Nessa modalidade não faltam exemplos a que ilustrar essa verdade. Porém, essa
não é a regra. Dessa vez, venceu o melhor time, o planejamento, a estrutura dentro
e fora de campo, a parceria, a coletividade, a meritocracia. Deixaram um legado.
Com toda certeza venceram os melhores e
temos muito que apreender!
Fonte:
www.esportes.estadao.com.br
www.psicologianoesporte.com.br
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