terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

É possível sentir-se enamorado pela mesma pessoa por décadas


Existem pessoas vivendo 10, 20 ou 50 anos juntas e sentindo sempre o mesmo prazer na companhia, o mesmo conforto nos abraços, nos beijos e nas conversas. Tudo isso é muito interessante, portanto, deve-se agradecer ao cérebro, mas o contrário a culpa também é dele. De certa forma, é curioso que laços afetivos fortes, como os amorosos, sejam tão importantes para espécie humana. Tecnicamente, viver em sociedade, ou mesmo em pares, não é obrigatório para a sobrevivência de nenhum animal, no entanto mamíferos, aves e outros bichos que procuram um par somente para o acasalamento e imediatamente depois seguem cada um o seu caminho.
Quando gostamos de formar pares a ponto de investir boa parte de nossa energia, tempo e esforços cognitivos em convencer um belo exemplar do sexo interessante de que nós somos a pessoa mais sensacional e desejável na face da Terra, é porque o sistema cerebral humano, como o de outros animais sociais, é capaz de atribuir um valor positivo incrível à companhia alheia. Isso é função do sistema de recompensa, conjunto de estruturas no centro do cérebro especializadas em detectar quando algo interessante acontece ao premiar-nos com uma sensação física inconfundível de prazer e satisfação, e ainda associar esse prazer com o que levou a ele – o que pode ser uma ação, uma situação, um objeto ou alguém que nos parece atraente.
Conforme o prazer se repete na companhia dessa pessoa, o valor positivo que atribuímos a ela é reforçado, ao mesmo tempo torcemos para que isso aconteça no cérebro dela, associando um valor cada vez mais positivo à nossa própria companhia, ou seja, nossa auto estima está funcionando bem! É o que fazemos no período de namoro, quando conversas interessantes, passeios agradáveis, boa música, boa comida e carinho oferecem prazeres que vão sendo associados à companhia do outro. Quando rola sexo de qualidade melhor fica: o prazer do orgasmo funciona como uma cola extraordinária para o sistema de recompensa, que atribui corretamente a satisfação incrível àquela pessoa específica, porém isso não funciona tão bem em alguns cérebros!
Com a repetição, o sistema de recompensa vai aprendendo a ficar ativado não apenas em resposta, mas também em antecipação à presença daquela pessoa. Esse prazer antecipado é a motivação, que nos dá forças para alterar compromissos, abrir espaço na agenda e ficar acordada de madrugada pensando naquela pessoa. Essa é a paixão, estado de motivação enorme em que se faz tudo em nome de mais tempo na presença do ser amado.
Quando pode virar amor? Existe ao menos uma definição operacional curiosa: passado o ardor da paixão, descobre-se que se ama alguém quando pensar em uma vida sem ela causa angústia sincera e profunda. O amor é esse laço que faz seu cérebro achar que sua felicidade está vinculada à presença e à felicidade do outro e que fazê-lo feliz dá novo sentido à sua vida. Nesse estado, desejar a companhia do outro é apenas natural.
Pode ser para sempre? Depende de vários fatores, alguns deles fora de nosso alcance, como ser traído em vários sentido. A boa notícia da neurociência sobre a longevidade dos relacionamentos amorosos é que eles não estão necessariamente fadados ao esgotamento: é, sim, possível se sentir apaixonado décadas a fio pela mesma pessoa. E não é mero acaso de sorte: cada um pode fazer sua parte. É uma questão de continuar inventando e descobrindo novos prazeres a dois, cuidando e valorizando o que há de bom no outro, e assim manter o sistema de recompensa do outro interessado e atento sempre.
Fonte: Mente Cérebro



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