
Quando gostamos de formar pares a ponto de
investir boa parte de nossa energia, tempo e esforços cognitivos em convencer
um belo exemplar do sexo interessante de que nós somos a pessoa mais
sensacional e desejável na face da Terra, é porque o sistema cerebral humano,
como o de outros animais sociais, é capaz de atribuir um valor positivo
incrível à companhia alheia. Isso é função do sistema de recompensa, conjunto
de estruturas no centro do cérebro especializadas em detectar quando algo
interessante acontece ao premiar-nos com uma sensação física inconfundível de
prazer e satisfação, e ainda associar esse prazer com o que levou a ele – o que
pode ser uma ação, uma situação, um objeto ou alguém que nos parece atraente.
Conforme o prazer se repete na companhia dessa
pessoa, o valor positivo que atribuímos a ela é reforçado, ao mesmo tempo
torcemos para que isso aconteça no cérebro dela, associando um valor cada vez
mais positivo à nossa própria companhia, ou seja, nossa auto estima está
funcionando bem! É o que fazemos no período de namoro, quando conversas
interessantes, passeios agradáveis, boa música, boa comida e carinho oferecem
prazeres que vão sendo associados à companhia do outro. Quando rola sexo de
qualidade melhor fica: o prazer do orgasmo funciona como uma cola
extraordinária para o sistema de recompensa, que atribui corretamente a
satisfação incrível àquela pessoa específica, porém isso não funciona tão bem
em alguns cérebros!
Com a repetição, o sistema de recompensa vai
aprendendo a ficar ativado não apenas em resposta, mas também em antecipação à
presença daquela pessoa. Esse prazer antecipado é a motivação, que nos dá
forças para alterar compromissos, abrir espaço na agenda e ficar acordada de
madrugada pensando naquela pessoa. Essa é a paixão, estado de motivação enorme
em que se faz tudo em nome de mais tempo na presença do ser amado.
Quando pode virar amor? Existe ao menos uma
definição operacional curiosa: passado o ardor da paixão, descobre-se que se
ama alguém quando pensar em uma vida sem ela causa angústia sincera e profunda.
O amor é esse laço que faz seu cérebro achar que sua felicidade está vinculada
à presença e à felicidade do outro e que fazê-lo feliz dá novo sentido à sua
vida. Nesse estado, desejar a companhia do outro é apenas natural.
Pode ser para sempre? Depende de vários fatores,
alguns deles fora de nosso alcance, como ser traído em vários sentido. A boa
notícia da neurociência sobre a longevidade dos relacionamentos amorosos é que
eles não estão necessariamente fadados ao esgotamento: é, sim, possível se
sentir apaixonado décadas a fio pela mesma pessoa. E não é mero acaso de sorte:
cada um pode fazer sua parte. É uma questão de continuar inventando e descobrindo
novos prazeres a dois, cuidando e valorizando o que há de bom no outro, e assim
manter o sistema de recompensa do outro interessado e atento sempre.
Fonte: Mente Cérebro
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